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quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Crise parcial complexa (Epilepsia)


A crise parcial complexa, correspondente mais ou menos ao que anteriormente se chamava epilepsia do lobo temporal, é uma descarga epileptiforme focal que se origina em um dos lobos temporais e que posteriormente se dissemina para os lobos temporais dos dois hemisférios cerebrais.

Ela está na interface entre a neurologia e a psiquiatria, podendo produzir tanto sintomas motores como psíquicos.

As epilepsias do lobo temporal constituem o grupo mais frequente de epilepsias em pacientes adultos.

A diferença entre as crises parciais complexas e as crises parciais simples é que aquelas primeiras são acompanhadas por perturbações da consciência (crises psicomotoras, na denominação clássica), enquanto as simples não são e o paciente conserva a noção do que está acontecendo com ele.

As síndromes epilépticas podem ser causadas por defeitos genéticos, anomalias dos canais iônicos ou lesões específicas do cérebro.

Tipicamente, a crise parcial complexa ocorre devido à esclerose do hipocampo, mas também pode haver outros tipos de lesões, tais como tumores, displasias corticais, hamartomas (tumores benignos que possuem a mesma composição dos tecidos que o cercam), malformações vasculares, etc.

A maioria das crises epilépticas no idoso é parcial e é secundária a uma causa isquêmica ou hemorrágica.

Para cada paciente a crise parcial complexa tem um quadro clínico distinto e uma história natural diferente, mas relativamente estereotipada.

Em geral, duram de trinta segundos até um a dois minutos e só excepcionalmente um tempo mais longo.

É frequente o relato de convulsão febril na infância, antecedente familiar de convulsão febril ou mesmo de epilepsia.

O quadro normalmente é dominado por auras que antecedem as crises parciais complexas, sendo frequente haver sinais motores associados, os quais têm, aos olhos do neurologista, um valor localizatório da lesão causal.

É comum que ao episódio inicial na infância se suceda um longo período sem sintomas e que as crises parciais complexas só retornem na adolescência.

As crises às vezes provocam alucinações de grande nitidez que dão ao paciente a impressão de serem verdadeiras memórias e podem também gerar experiências de déjà vu ou jamais vu.

Outras vezes podem ocorrer estados mentais altamente elaborados, experiências parecidas a sonhos, misturados ao pensamento atual e um sentimento de “estar em algum outro lugar".

Além destes sintomas também pode ocorrer uma forma peculiar de desconforto abdominal, associado à perda de contato com os arredores e automatismos envolvendo a boca e o trato gastrointestinal (lamber, contrair os lábios, grunhir ou fazer outros ruídos).

Na dependência do tipo de crise que o paciente tenha, podem ocorrer ainda mais alguns dos seguintes sintomas: movimentos musculares tônico-clônicos, principalmente na face, pescoço e/ou extremidades; alucinações dos sentidos; formigamentos, adormecimento e queimação; sensação de dor, frio ou movimento de qualquer parte do corpo; crises autonômicas com palidez, ruborização, vômitos, sudorese, piloereção, taquicardia e midríase (dilatação das pupilas) e sentimentos tais como irrealidade, medo, prazer, etc.

Alguns pacientes descrevem experiências "mais reais que o real", que parecem de natureza mística ou paranormal, das quais brotam sentimentos extremamente intensos.

Padrões incomuns automáticos de comportamento podem afetar a esfera alimentar, deambulatória, gestual, da mímica, verbal e mesmo gritos e risos.

Num resumo de utilidade diagnóstica prática pode-se dizer que a pessoa pode parecer consciente, mas não responde durante um curto período, podendo verificar-se um olhar vazio, movimentos repetitivos de mastigação ou de estalar os lábios ou a mão e comportamentos fora do habitual.

Depois da crise, a pessoa não tem memória do episódio ocorrido.

O diagnóstico inicial da crise parcial complexa se baseia no quadro clínico relatado pelo paciente ou seus familiares e deve ser confirmado por exames laboratoriais, especialmente exames de imagens do cérebro e eletroencefalograma.

O tratamento medicamentoso da crise parcial complexa é feito com antiepilépticos (carbamazepina, oxcarbazepina, fenitoína, entre outros), mas costuma ser pouco eficaz.

O tratamento cirúrgico consiste na ablação parcial do lobo temporal e apresenta resultados superiores ao tratamento clínico.

O prognóstico da crise parcial complexa em geral é bom, porém alguns casos cursam com crises refratárias ao tratamento farmacológico.

A cirurgia oferece resultados favoráveis, comprovadamente superiores aos tratamentos medicamentosos.

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