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sábado, 29 de outubro de 2016

Vai viajar de navio; um cruzeiro? Então leia isso!


Até a pouco, uma gastroenterite aguda que não fosse bacteriana ou parasitária era dita “virótica”, sem que se identificasse o vírus, mas essa situação mudou. Hoje se sabe que cerca de três quartos dessas gastroenterites são devidas ao norovírus (anteriormente referido como Norwalk-like vírus), recentemente identificado. Por isso, a condição é chamada norovirose.

O norovírus é um pequeno vírus esférico, de 27 à 35mm, isolado a partir da família Caliciviridae. Ele foi reconhecido pela primeira vez em 2002 em epidemias de gastroenterites ocorridas em navios durante cruzeiros.

O norovírus é extremamente contagioso, transmitido de pessoa a pessoa por via fecal-oral e persiste por três semanas, durante as quais ele é excretado nas fezes e mesmo em pequenas quantidades (<100) as partículas infectantes contaminam as mãos, o ar, as superfícies, a água, os alimentos, etc.

Ele é muito estável no meio ambiente, dura um mês a uma temperatura de 20°C, ou mais de dois meses a 4°C. Além disso, é insensível ao álcool à 70°C e aos detergentes comuns. Mesmo portadores assintomáticos podem transmitir o vírus. A contaminação ambiental também tem sido documentada como um fator contribuinte na manutenção de transmissão durante surtos.

Normalmente, o vírus tem sido detectado em surtos de gastroenterite que ocorrem em grandes confinamentos humanos como em hospitais, cruzeiros marítimos, hoteis, escolas, etc. Ao que parece, as partículas infectantes também podem ser aerossolizadas a partir de vômitos e inaladas ou deglutidas. Existe dificuldade para controlar surtos em locais onde a população compartilha espaços e instalações sanitárias. O norovírus só confere uma imunidade de curta duração (algumas semanas ou meses).

Felizmente, o comprometimento clínico do vírus não é grave. O tempo de incubação é de 24 a 48 horas. Após isso, aparecem subitamente náuseas, vômitos, diarreia, câimbras abdominais, febre (menor de 39°C), cefaleias, mialgias, desidratação e distúrbios hidroeletrolíticos. A doença é geralmente autolimitada e dura de 12 a 60 horas e representa uma gravidade particular em idosos e em crianças muito pequenas ou que estejam em período de amamentação.

Além do diagnóstico clínico, feito a partir dos sintomas, sua confirmação pode ser feita por meio de uma coprocultura (cultura das fezes). Uma confirmação indireta pode ser obtida por meio de um exame parasitológico negativo de fezes, hemograma e velocidade de sedimentação sem particularidades. Técnicas de detecção molecular de DNA tem facilitado um melhor entendimento do seu papel em surtos de doenças gastrointestinais.

Não há tratamento curativo específico. Os tratamentos sintomáticos incluem reequilíbrio hidroeletrolítico, antieméticos, antipiréticos, etc.

Raramente, a norovirose pode causar óbito por desidratação, particularmente em pacientes idosos ou com saúde previamente debilitada.

Deve-se adotar todas as precauções universais contra as doenças infecciosas, reforçadas em virtude da extrema contagiosidade do vírus, e privilegiar cuidados com a transmissão indireta realizando sempre a lavagem das mãos. Como alternativa, desinfetantes fenólicos mostraram ser efetivos contra o Calicivirus. Existem dados insuficientes para determinar a eficácia das soluções alcoólicas contra os Norovírus.

As complicações mais temíveis da norovirose, mas facilmente evitáveis, são a desidratação e os distúrbios hidroeletrolíticos, que em idosos ou crianças pequenas pode levar à morte.

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