É sempre um choque quando os pais descobrem que seu filho tem epilepsia. Afinal, a gravidade dos sintomas desta doença, sempre exige dos pais e da criança uma atenção especial.
Para a família e para a criança, tanto as convulsões, quanto a antecipação delas podem ser uma condição estressante. Quando não devidamente controladas, as crises podem desestruturar toda a rotina da criança, criando sérios obstáculos ao seu pleno desenvolvimento na escola, na vida social e na família. Além disto, a falta de um diagnóstico e tratamento precoces podem implicar em limitações físicas e mentais que virão a comprometer ainda mais o futuro da criança.
A epilepsia não é uma doença nova. Desde os tempos de Hipócrates, o pai da medicina moderna, já se conheciam esses sintomas que eram entretanto interpretados de forma mística. Apesar do intenso preconceito que até hoje muitos pacientes enfrentam, pessoas brilhantes como o imperador romano Júlio César, além de grandes escritores como Machado de Assis e o clássico Dostoiévsky sofriam deste mal.
Atualmente, a epilepsia não representa uma incógnita médica. A ciência já mostrou que se trata de uma doença com possibilidades de cura em 90% dos casos.
No Brasil, 1,3% da população sofre de epilepsia e 50% destes portadores são crianças. Este número transforma as epilepsias em problema de saúde pública, já que esta taxa é ainda maior que a taxa de ocorrência de algumas doenças infecto-contagiosas como a AIDS.
Hoje, profissionais especializados no tratamento das epilepsias são capazes de fornecer um diagnóstico preciso de cada situação. Cerca de 80% das epilepsias são controladas através do uso de medicamentos, sendo que estes pacientes, fazendo uso da medicação, levam uma vida totalmente normal.
Cerca de 20% dos casos são classificados como de difícil controle. Mesmo nestes pacientes, a melhor compreensão da doença proporcionada pela tecnologia hoje à nossa disposição, como o eletroencefalograma com eletrodos especiais, a ressonância magnética, o exame neuropsicológico, etc., permitem um controle completo em metade destes casos.
Os 10% restantes, verdadeiramente resistentes à medicação têm ainda a opção do tratamento cirúrgico.
Recentemente, o tratamento cirúrgico provou ser tão efetivo em crianças quanto em adultos. Assim, a cirurgia passou a ser realizada com excelentes resultados mesmo em crianças pequenas, quando a medicação antiepiléptica não obtinha sucesso. Cresceram, portanto, as chances de se fazer um diagnóstico e tratamento precoces da doença, que podem evitar que a criança seja vítima de todos os estigmas e frustrações desta condição.
A compreensão dos pais sobre a problemática da epilepsia pode ser determinante para o futuro da criança, já que a imagem que a criança desenvolve desde pequena sobre si mesma e sobre sua doença, está diretamente relacionada à forma como é tratada pela família e pela sociedade. Portanto, passado o impacto inicial, é preciso orientar os pais no sentido de proporcionar à criança um ambiente de compreensão, amor e aceitação que permitam ao seu filho crescer com auto-confiança.
Se uma criança cresce sentindo-se ansiosa e temerosa dos sintomas de sua doença, se ela é excessivamente protegida do mundo externo pelos pais, se ela aprende a olhar a epilepsia como o centro de sua vida, ela pode tornar-se uma pessoa dependente e imatura, tanto na infância quanto na vida adulta.
Por outro lado, se a criança é encorajada a tratar seus sintomas como uma inconveniência temporária e a conviver com outras crianças de sua idade nas atividades cotidianas, participando da vida familiar e social de forma natural, ela possui mais chances de crescer com segurança e independência, desenvolvendo ao máximo seu potencial.
Afinal, o que é a Epilepsia?
É um conjunto de sintomas tais como ausências, convulsões, que quando ocorrem repetidamente caracterizam uma síndrome denominada epilepsia. Isso significa que uma crise isolada precisa ser avaliada, mas não define necessariamente a doença.
As crises epilépticas são causadas por uma descarga repentina de energia elétrica no cérebro. Todos nós temos bilhões de células no cérebro que descarregam energia elétrica. Movimento, memória, pensamento, sensação, emoção e a própria vida não seriam possíveis se não houvessem estes pequenos impulsos de energia que carregam sinais de uma célula à outra. Às vezes estes impulsos se alteram, e o resultado visível são as crises epilépticas.
Quando o distúrbio elétrico envolve os dois hemisférios do cérebro, a crise é chamada generalizada. Quando só uma parte do cérebro é afetada, ela é chamada de parcial. Essas são as duas categorias de crises, que podem se manifestar de diversas formas. Há ainda crises que começam em uma parte de cérebro e depois se generalizam. Estas são chamadas de crises secundariamente generalizadas.
Como lidar com os sintomas?
Independente do número de vezes que ocorra, uma crise epiléptica numa criança é sempre uma situação difícil para os pais. Não existe nenhuma forma de abreviar uma crise enquanto ela ocorre, mas é importante que os pais saibam que mesmo que a criança pareça sentir dor, ela de fato não sofre durante a crise. Existe ainda uma série de coisas que podem ser feitas para reduzir o impacto dos sintomas sobre a criança.
Durante a crise, os pais devem retirar objetos cortantes de locais próximos, afrouxar roupas muito justas e proteger a cabeça da criança contra choques durante os movimentos bruscos involuntários, procurando deitar a criança sobre alguma superfície macia. Existe uma falsa crença de que é necessário evitar que a criança morda a própria língua. Isto não é verdade. Basta esperar a crise passar e receber a criança com afeto. As crises não são longas, elas duram em geral de 3 à 5 minutos.
Por que algumas crianças sofrem de epilepsia?
Saber o que a epilepsia é e por que as crises acontecem, ainda não explica por que uma criança a desenvolve e outra não. Apesar de que muitas vezes não se sabe por que a epilepsia começa, os cientistas descobriram algumas causas. A primeira delas são as lesões cerebrais que podem ocorrer durante o nascimento ou durante o desenvolvimento posterior, por exemplo em vista de um acidente de automóvel. Tumores ou doenças como a encefalite, meningite ou sarampo também podem ser a causa em alguns casos. Algumas formas de epilepsia possuem também uma base genética.
Frequentemente os pais se preocupam com o diagnóstico de epilepsia pois receiam que ele também possa implicar em algum tipo de retardo mental. Do ponto de vista intelectual, crianças com epilepsia em geral se comportam de modo semelhante à população em geral, podendo assim haver crianças com inteligência acima da média, na média ou abaixo dela.
Os pais certamente tem muitas dúvidas e medos, especialmente diante de um diagnóstico que pode causar tanto preconceito como a epilepsia. Mesmo assim, é fundamental que eles saibam que podem e devem buscar ajuda profissional, tanto no que diz respeito ao tratamento medicamentoso, cirúrgico, quanto no sentido de obterem orientação sobre qual a melhor maneira de enfrentar as dificuldades de seu filho. Afinal, o diagnóstico e tratamento precoces, podem salvar o futuro de uma criança, permitindo que ela venha a ter uma vida completamente normal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário