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terça-feira, 22 de agosto de 2017

O luto e as suas fases


O luto é um conjunto de reações fisiológicas e emocionais à uma perda significativa, geralmente a morte de um ser querido, mas que também pode ser reação à perda de outra pessoa, animal, fase da vida, status social, objeto de estimação, etc. Um grupo social, um povo ou um país também pode entrar em luto, sendo comum a decretação de luto oficial em diversos países.

Quanto maior o apego ao objeto perdido, maior o sofrimento e as manifestações do luto. O fenômeno do luto sofre uma grande influência do meio e, por isso, tem diferentes formas de expressão em culturas distintas.

Quais são as expressões do luto?

Em termos subjetivos, o luto habitualmente causa uma profusão de emoções dirigidas aos mais diversos alvos: raiva, tristeza, alívio, culpa, medo, impotência, revolta. Num sentido objetivo, normalmente, as pessoas procuram manifestar umas às outras o fato de estarem sentindo pesar (luto) por alguma perda e costumam fazer isso através das cores ou de algum ato simbólico.

O luto pode ser expresso sob a forma de diversas cores, que variam de país para país, sendo o preto e o branco as mais usuais. Na maior parte da cultura ocidental a cor do luto é o preto, mas há exceções. Na África do Sul, por exemplo, a cor habitual é o vermelho; no Egito, o amarelo; na Índia, o castanho ou o branco; na Tailândia, o roxo; no Irã, o azul; na China e no Japão, o branco. Os reis da França costumavam colocar véus brancos no período de luto.

Entre os atos que expressam luto, os países que se sentem enlutados costumam astear suas bandeiras a meio mastro. Nas pequenas cidades do interior é comum que os sinos das igrejas tenham repiques especiais para anunciar a morte de alguém e o período imediatamente posterior à morte é um período se silêncio e constrição. As festividades ou eventos alegres geralmente são cancelados ou adiados.

Quais são as fases do luto?

Essas fases dependem se a perda da pessoa querida se deu inopinadamente e de forma inesperada ou se a perda já era esperada, como a que ocorre depois de um doença prolongada.

Imediatamente após uma perda inesperada, há uma fase de choque em que a pessoa chora, grita e às vezes até desmaia. Depois, vem um processo de lembranças da perda, aliadas ao sentimento de tristeza e choro. Esse processo evolui para outro em que as lembranças são intercaladas com cenas agradáveis e desagradáveis sem, necessariamente, serem acompanhadas de tristeza e choro.

Além dessas reações iniciais, são comuns os sentimento de raiva, de solidão, de agitação, de ansiedade e fadiga e sensações físicas como "vazio no estômago" e "aperto no peito". A duração deste processo é variável e seguido de uma notável falta de interesse pelo mundo exterior.

Com o passar do tempo, o choro e a tristeza vão diminuindo e é esperado que a pessoa vá se reorganizando, porém este é um processo a longo prazo e os episódios de recaída são comuns. Caso alguém continue em intenso sofrimento e não consiga se reorganizar por mais de 6 meses, o luto é considerado luto patológico. Além disso, o luto provoca uma crise leve ou grave na família e no grupo social a que a pessoa falecida pertencia, pois outras pessoas precisam assumir os papeis que eram executados pela pessoa faltosa. Ademais, a morte de uma pessoa pode implicar em graves consequências práticas para a família e para o grupo social ao qual ela pertencia, que têm de se rearranjar para suprir a falta.

De uma maneira mais sistemática, a psiquiatra suiça Elisabeth Kübler-Ross (1926-2004) descreveu cinco fases do luto:

1. Negação e choque, em que é difícil entender e aceitar o que aconteceu. A pessoa nega não o fato da morte, mas as consequências dele. Por exemplo: “não é verdade”, “não consigo acreditar que não vamos mais nos ver”. Fica-se bloqueado, “fingindo” que nada aconteceu, procura-se levar a vida normalmente, distraindo-se com o máximo de atividades possíveis, etc. No entanto, esse período não costuma durar muito tempo.

2. Raiva do ente querido por ter nos deixado, do médico que não o salvou, de si mesmo por não ter feito as coisas de modo diferente, etc. Uma revolta mais genérica pode ser dirigida ao “destino” ou à “vida”, levando a reformulações das visões de mundo.

3. A “negociação” é uma tentativa de fazer a vida voltar a ser o que era antes. É quando pensamos que poderíamos ter agido de modo diferente, não deixado “ele” sair de casa naquele dia ou ter prestado mais atenção e tido mais cuidado com algum detalhe relacionado à morte, etc. Mesmo antes da morte esperada podemos começar essa “negociação” como, por exemplo, prometendo algo para que Deus poupe a pessoa.

4. Na fase da depressão a pessoa passa a se sentir cansada e desconectada de outras pessoas. É uma fase mais profunda do luto, na qual se experimenta muita tristeza ou uma certa dormência emocional. Curiosamente essa fase mais depressiva pode ocorrer algum tempo depois da perda, depois que “caiu a ficha” e não imediatamente após ela.

5. Na fase da aceitação ainda se pode sentir tristeza ou saudade, mas passa-se a sentir que algo novo irá aparecer em nossas vidas.

Nem sempre todas essas fases se sucedem com regularidade umas às outras e algumas podem até mesmo faltar.

Como "tratar" o luto?

Como forma de ajudar uma pessoa enlutada a encarar melhor a morte, pode-se ressaltar o caráter de "fim de sofrimento" de algumas mortes ou mesmo estimular certas crenças espirituais positivas, independentemente da religião do indivíduo. Outra possibilidade é associar a morte a um descanso, tranquilidade, paz, retorno para a natureza, parte natural do ciclo da vida e continuidade da pessoa através de seus descendentes.

Mas as pessoas não devem fugir a seus sentimentos. Não há como escolher não sofrer. Chorar é o melhor remédio. É importante falar sobre o luto, porque ele será o principal assunto que estará no pensamento por algum tempo. Deve-se dar tempo ao tempo; nunca se deve estimular alguém a "sair" apressadamente do seu luto. Cada um precisa de um tempo variável para lidar com essa difícil situação que a vida nos impõe e este intervalo deve ser respeitado pelos que estão próximos a quem está sentindo essa falta.

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