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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016
Estudo reforça a relação do zika vírus e a microcefalia em bebês
Uma publicação científica no The New England Journal of Medicine deixou ainda mais clara a relação entre o zika vírus e os casos de microcefalia. O estudo realizado na Eslovênia foi feito em um feto abortado depois de 32 semanas de gestação.
A gestante estava morando no Brasil, no Estado do Rio Grande do Norte, fazendo trabalho voluntário desde o final de 2013. Em fevereiro de 2015 ela engravidou e logo no primeiro trimestre da gravidez foi infectada pelo vírus.
Apesar dos fortes sintomas da doença manifestados na gestante, exames de ultrassonografia realizados no Brasil entre a 14ª e a 20ª semana de gestação mostravam que o desenvolvimento do feto era normal.
Já na 29ª, quando a grávida voltou à Europa, um novo exame identificou os primeiros sinais da microcefalia. Na 32ª semana a síndrome foi confirmada. Em razão do prognóstico, ela resolveu abortar e a partir daí foi possível estudar a relação entre o zika vírus e a microcefalia.
Na autópsia, pesquisadores descobriram estruturas neuronais destruídas e confirmaram a presença do vírus apenas no cérebro. A hipótese é de que o vírus penetre nos neurônios, causando os problemas de formação.
Foi possível também sequenciar o genoma do zika vírus, o que revelou uma "identidade" muito semelhante ao vírus que foi encontrado na Polinésia Francesa, anos antes de ser identificado também no Brasil.
Trata-se de mais um estudo que reforça a relação entre o vírus e a microcefalia, mas ainda não se pode dizer que essa ligação direta é 100% certa.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) ainda não se pronunciou sobre o estudo e ontem (quarta-feira) afirmou que a maior parte das mulheres nascidas em países afetados pelo zika vírus vão dar à luz crianças sem microcefalia.
Junto ao anúncio, veio novamente o pedido de que, por enquanto, as gestantes continuem tomando precauções, como cobrir o corpo e usar repelente e camisinha.
O ministro da Saúde do Brasil, Marcelo Castro, afirmou que o estudo faz sentido, mas é preciso ampliar as pesquisas, explica o repórter de Brasília, Afonso Benites. "Não há a menor dúvida de que o fator determinante da epidemia de microcefalia que temos no Brasil é a epidemia de zika. O que vamos investigar agora é se há outros fatores adicionais, outras influências."
A fala de Castro ocorreu durante o anúncio de uma parceria entre o Governo brasileiro e o dos Estados Unidos para a produção de vacina contra o zika.
Para Fernando Reinach, especialista em biologia molecular e um dos coordenadores do primeiro projeto genoma brasileiro, ainda é necessário esclarecer qual é a relação de causa e efeito entre o zika vírus e os casos de microcefalia.
Especialistas da OMS, ouvidos pelo EL PAÍS, vão na mesma linha: a relação espacial e temporal está estabelecida, falta confirmar a causalidade.
Tudo depende de saber quantas mães contraíram zika vírus e em quais condições de saúde estavam quando (e se) tiveram filhos com microcefalia. A questão é ainda mais complicada porque não existe uma estatística confiável de quantas pessoas contraíram o zika vírus.
Em entrevista para María Sahuquillo, repórter de Madri, o professor de Saúde Pública da Universidade de Barcelona, Antoni Trilla, concorda com a avaliação de Reinach e dos especialistas da OMS.
Segundo ele, a associação entre o vírus e a microcefalia não significa que essa seja a única causa da síndrome. Para precisar o quadro real são necessárias pesquisas epidemiológicas. "Isso permitira identificar fatores que poderiam demonstrar uma clara associação entre as duas coisas", diz Trilla, ressaltando que essas linhas de pesquisa são demoradas, levando semanas ou meses.
"Todo ano pessoas morrem de gripe, mas nós não ficamos preocupados com isso, porque sabemos que a gripe só vai causar morte em quem já está, por algum motivo, muito debilitado. Para termos uma posição firme sobre os efeitos do zika vírus nos fetos, seria necessário saber exatamente quantas mães grávidas contraíram o vírus e quantas tiveram filhos com microcefalia.
Isso não temos ainda, o zika vírus não era notificado até recentemente", opina Reinach. Para ele, o momento é de calma: a situação, de fato, pode se mostrar muito preocupante, mas também pode se revelar, no futuro, algo não tão sério.
Fonte: Jornal "El País"
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