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terça-feira, 27 de novembro de 2012

Psicocirurgia




O que essa expressão acima faz você pensar? Faz pensar em algum procedimento psíquico para tratar alguma doença?

Mas, está errado!

O termo 'psicocirurgia' é devido à, talvez, forma mais antiga de cirurgia de cérebro conhecida: é a chamada trepanação (de trupanon grego, broca).

E uma das razões para realizar este horripilante procedimento era talvez o mesmo que motivou cirurgiões modernos, como o Dr. Egas Moniz, a realizar lobotomias para aliviar sintomas mentais.

Foram achados crânios com sinais de trepanação praticamente em todas as partes do mundo onde o homem viveu. Ela é provavelmente a operação cirúrgica mais antiga de todas: existem evidências que ela já era feita há mais de 40.000 anos atrás, no tempo dos Cro-Magnons.

A trepanação foi realizada ao longo de todas as eras, provavelmente por razões diferentes.

Foi praticada na Idade de Pedra, no Egito Antigo, na Grécia e nos tempos pre-históricos e clássicos romanos, no Oriente Médio e Distante, entre as tribos célticas, na China (antiga e recente), na Índia, entre o maias, astecas e Incas, entre os índios brasileiros (karaya e eugano), nos Mares de Sul, e na África do Norte e Equatorial (onde eles ainda são realizadas, inacreditavelmente).

A trepanação podia sere feita de duas maneiras: por abrasão de osso (usando uma pedra afiada ou uma faca de vidro vulcânico) ou serrando (usando trépanos semicirculares que cortavam por meio de um movimento circular constante, como era feito pelas civilizações de América Central e do Sul).

Os egípcios inventaram o trépano circular, constituído por um tubo com bordas dentadas, que corta muito mais fácil por meio de rotação, e que foi usado extensivamente na Grécia e Roma, dando origem ao "trépano de coroa", usado na Europa entre o séculos 1 e 19.

Uma das invenções principais em tecnologia de trepanação foi a espiga central, que era usada para centrar o movimento de rotação sobre o mesmo ponto do osso, de forma que uma precisão melhor fosse alcançada.

Quanto tempo levava uma trepanação cirúrgica?

Quando é feita em uma única sessão (sim, em algumas culturas a trepanação é feita em várias sessões, que podem levar até 12 dias!), ocupa de 30 a 60 minutos de serrar contínuo ou perfurar. Paul Broca, o onipresente neurocirurgião francês e antropólogo, determinou este fato experimentalmente em animais e cadáveres, em 1867.

As primeiras descobertas históricas e médicas sobre a trepanação na Antigüidade foram feitas em 1867, por E.G. Squier, na América do Norte, e por Paul Broca, na Europa.

Nós nunca saberemos como e quando o homem primitivo chegou à descoberta de trepanação, e só podemos especular sobre as razões pelas quais ela era realizada. Os especialistas pensam que, de acordo com a cultura e com a época, elas poderiam estar estas entre as seguintes:

Rituais mágicos e religiosos, para trazer sorte e oferecer sacrifício, etc. Em muitas culturas (principalmente as que eram conhecidas como "adoradores de cabeças", porque atribuíam significado especial à cabeça e cérebro em sua religião), a trepanação era muito comum, e a placa redonda de osso tirada de um crânio era usada como um amuleto.

Há a possibilidade que o número grande de crânios trepanados achados em postos militares fosse de inimigos, que eram usados como "provedores" destes amuletos.

Terapias feitas por curandeiros, principalmente devido à convicção que, abrindo o crânio, eles "liberariam" espíritos ruins ou demônios que habitariam o corpo do paciente. Estas trepanações podem então ser consideradas antecessoras das psicocirurgias, pois provavelmente as indicações mais comuns eram doenças mentais, epilepsia, cegueira, etc.

Para o tratamento de condições médicas legitimas, tais como enxaquecas fortes, fraturas e feridas do crânio, osteomielite, encefalite, pressão intracranial elevada a hematomas, hidrocefalia e tumores de cérebro, etc. De fato, para algumas destas condições, a trepanação pode ter um efeito terapêutico real, e ainda é usada para isso pelos neurocirurgiões.

Nos Mares de Sul e em tribos africanas do norte (rifkabyla e hausa) e na Quênia (kisi), a trepanação é ainda usada, particularmente para aliviar feridas de guerra infligidas à cabeça. O Pai da Medicina, Hipócrates, escreveu instruções detalhadas sobre como fazer trepanações do crânio para uma variedade de condições médicas,

Até o Século 18, na Europa, bem como na Idade Média, a trepanação era muito comum como procedimento médico, tais como as sangrias, ou seja; não tinha nenhuma utilidade médica real.

A trepanação repetida era comum; por exemplo sabe-se que Príncipe Philip de Orange foi trepanado 17 vezes pelo seu médico. De La Touche, um médico francês, trepanou um paciente 52 vezes em um período de dois meses ! Desde os tempos romanos, também, muitos médicos acreditavam que as placas de osso (chamadas rondelles) tiradas de crânios trepanados tinham valor terapêutico quando pulverizadas e misturadas com outras beberagens dadas aos pacientes para várias doenças.

Seria possível os pacientes sobreviverem a uma operação tão drástica, sem antibióticos, assepsia ou anestésicos?

É difícil de acreditar, mas julgando-se a partir do número de crânios que mostravam cura e regeneração do osso nas bordas, a proporção de pacientes que sobreviviam à provação de um trepanação era bastante alta, de 65 a 70%. Em 400 crânios examinados por um pesquisador, 250 mostravam recuperação.

Em tempos modernos (séculos 14 a 18) esta proporção era muito mais baixa e às vezes aproximava-se de zero. Birner (1996) cita que um trepanador "profissional" chamado Mery, perdeu todos seus pacientes em 60 anos de atividade. A causa mais comum de morte era infecção do meninges ou do cérebro, ou hemorragia.

Se estes fatores são cuidadosamente controlados (por exemplo, interrompendo a ação do trépano antes de tocar as meninges de cérebro), é uma operação relativamente segura. Em 1962, um neurocirurgião peruano executou um trepanação em um paciente com trauma craniano, usando os instrumentos cirúrgicos de Peru antigo. O paciente sobreviveu.

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