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domingo, 30 de setembro de 2012

Sobre Déficit de Atenção e Hiperatividade





Discussões intermináveis sobre a real natureza do chamado Transtorno do Déficit de Atenção (TDAH) são travadas até hoje, sem que os debatedores sequer se aproximem de qualquer consenso, sendo que muitos já se acham tão comprometidos com as suas posições ideológicas – e mercadológicas –que a realidade clínica acaba relegada a um segundo plano. Cada setor direciona o seu discurso e seleciona a sua clínica de acordo com as suas convicções e interesses. Na realidade nunca ocorre entre eles nenhum debate, nenhuma troca, mas uma simples exposição de ideias paralelas, supostamente sobre um mesmo assunto.

A psicopatologia da atenção tem sido pouco valorizada, assim como o fato de que a maior parte dos transtornos psiquiátricos cursa com alterações da atenção. A própria natureza do processo atencional raramente é discutida no nível clínico, e muita gente fala de déficit de atenção sem sequer ter uma idéia clara do que seja, realmente, a atenção. Critérios puramente comportamentais são utilizados para o diagnóstico, sem levar em conta as funções neuropsicológicas essenciais que estão na pauta. Em nossa clínica vimos casos de suposto déficit - diagnosticados pelo comportamento - nos quais havia deficiência de tudo, menos de atenção.

Seria obviamente ridículo, por exemplo, que os indivíduos com suspeita de surdez tivessem que ser avaliados pelo seu comportamento, e não pela deficiência específica que supostamente teriam. Imaginemos que as suas atitudes fossem computadas numa tabelinha, e a audiometria fosse sumariamente deixada de lado. Mas isso é o que acontece rotineiramente no caso do TDAH.

Para fomentar essa discussão, transcrevemos a seguir um estudo clínico, com o objetivo de mostrar, através da descrição de dois casos da nossa prática diária, a essencialidade da adequada avaliação neuropsicológica para o diagnóstico do TDAH.

Considera-se nele que o diagnóstico deve ser essencialmente clínico, o que significa que não poderia ser feito isoladamente por nenhuma escala ou teste. Leva-se em conta que o processo da atenção envolve uma interação complexa de funções e o déficit consiste num quadro sindrômico, e não em uma doença específica.

Além disso, em termos nosológicos a deficiência atencional pode se manifestar como um quadro primário ou como um sintoma secundário a vários distúrbios e circunstâncias.

Por conta dessa diferença essencial entre os sintomas comportamentais e as manifestações essencialmente cognitivas são constatadas freqüentes contradições entre as avaliações realizadas a partir do uso de escalas específicas como a de Benczik ou os critérios do DSM IV (sistema de estabelecimento de diagnósticos em doenças mentais) e aquelas baseadas exclusivamente em critérios neuropsicológicos, como os do WISC-III (bateria de testes neuropsicológicos para crianças).

texto de Claudio Lyra Bastos

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