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sexta-feira, 1 de junho de 2018
"Folie à deux" Loucura a dois
“Folie à deux”, "loucura de dois", psicose induzida ou psicose compartilhada são algumas denominações de uma síndrome psiquiátrica rara em que os sintomas de uma crença delirante e, menos comumente, alucinações, são transmitidas de um indivíduo acometido de uma doença psiquiátrica para outro, susceptível.
Ela pode ser compartilhada por três (“folie à trois”), quatro (“folie à quatre”) ou mais pessoas, chegando a acometer toda uma família (“folie en famille”) e mesmo todo um grande grupo de pessoas (“folie à plusieurs"). Embora a literatura psiquiátrica continue a usar a denominação original em francês, as classificações psiquiátricas recentes referem-se à síndrome como transtorno delirante induzido (CID-10) ou transtorno psicótico compartilhado (DSM-5).
Essa desordem foi inicialmente conceituada na psiquiatria francesa em 1877 por Charles Lasègue e Jean-Pierre Falret e por isso é conhecida também como síndrome de Lasègue-Falret.
Fatores genéticos parecem estar envolvidos, mas fatores ambientais também ajudam a determinar o desenvolvimento desta doença, pois é necessário o convívio íntimo entre os parceiros para que ela ocorra. Em vista disso, relações pessoais próximas, duradouras e isoladas socialmente são o maior fator de risco para o desenvolvimento desta condição.
Como dito, essa síndrome ocorre mais comumente quando dois ou mais indivíduos envolvidos são muito próximos, estão social ou fisicamente isolados e têm pouca interação com outras pessoas. A “folie à deux” é um transtorno psicótico compartilhado no qual o doente consegue "convencer" a outra pessoa das suas próprias crenças psicóticas, embora esta segunda pessoa não apresente distúrbios psicológicos.
Várias subclassificações foram propostas para descrever como a crença delirante vem a ser sustentada por mais de uma pessoa:
1.“Folie imposée” (loucura imposta) — uma pessoa dominante, conhecida como "primária", "indutora" ou "principal", forma inicialmente uma crença ilusória durante um episódio psicótico e a impõe a outra pessoa ou pessoas, conhecidas como "secundárias" ou "receptoras".
2.“Folie simultanée” (loucura simultânea) — descreve a situação em que duas pessoas que sofrem independentemente de psicose influenciam o conteúdo das ilusões uma da outra, tornando-se idênticas ou surpreendentemente semelhantes.
3.“Folie communiquée” (loucura comunicada) — após longo período de resistência, a pessoa saudável acaba sendo envolvida, mas a psicose persiste mesmo quando a pessoa secundária é separada da causadora.
4.“Folie induite” (loucura induzida) — um paciente com psicose grave adiciona ideias delirantes a um paciente susceptível à psicose.
O indivíduo que é o verdadeiro psicótico (agente “primário”) geralmente é de caráter mais enérgico e ativo que o indivíduo induzido (agente “secundário”), mas este também exerce um papel ativo. O indivíduo que sofre a influência do indutor é mais tímido, mais passivo e com menor autoestima que o doente primário e costuma viver uma relação constante com esse último, de forma praticamente isolada de outras pessoas, alheio, portanto, à uma rede mais ampla de contatos sociais significativos.
Ele se engaja na sua loucura em função de algum interesse pessoal. A natureza desse interesse parece apontar para uma recompensa em termos do apoio e de intimidade que se fortalecem com o desenvolvimento da loucura a dois. As ideias delirantes de ambos participantes se retroalimentam e eles passam a compartilhar um sistema comum de crenças.
A esquizofrenia parece ser o diagnóstico mais comum do caso primário, embora possa haver também outros diagnósticos. Num arremedo menos incisivo dessa ocorrência, os transtornos paranoides ou histéricos costumam ser seguidos, pelo menos transitoriamente e até certo ponto, por um indivíduo sadio.
O conteúdo das crenças delirantes compartilhadas pode depender do diagnóstico do caso primário e incluir delírios relativamente bizarros, delírios congruentes com o humor ou delírios não-bizarros característicos do Transtorno Delirante.
Frequentemente é necessário começar o tratamento separando os dois ou mais indivíduos envolvidos. A simples separação dos indivíduos envolvidos quase sempre já é suficiente para curar a pessoa induzida a acreditar na psicose.
O agente “primário” geralmente exige tratamento medicamentoso com antipsicóticos. O agente “secundário” na maioria dos casos pode ser tratado com psicoterapia, mas se seu comprometimento for especialmente grave e ele for excessivamente susceptível à psicose pode também exigir medicação, caso o afastamento não seja suficiente.
As pessoas de idade avançada parecem ser mais vulneráveis à essa condição. Sem intervenção terapêutica, o curso pode ser crônico, uma vez que o transtorno ocorre com maior frequência em relacionamentos de longa duração e resistentes a mudanças. Com a separação do agente primário, as crenças delirantes do outro indivíduo desaparecem, às vezes rapidamente e, outras vezes, bem lentamente.
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