Essa pergunta pode parecer idiota (é claro que dor e coceira são sensações diferentes, embora quem tenha tido uma coceira muito forte e torturante possa discordar), mas se você tivesse a feito alguns anos atrás, os neurocientistas teriam coçado suas cabeças e encolhido seus ombros.
A sensação de dor e de coceira estão tão estreitamente ligadas em seu cérebro que era quase impossível dizer onde começava uma e terminava a outra. Agora, um novo estudo publicado no periódico PLoS One mudou isso.
Um grupo de neurocientistas liderado por Chih-Hung Lee e Takashi Sugiyama usou uma técnica sofisticada de imagem para ver o que acontece com o fluxo de sangue no cérebro quando os indivíduos sentem dor, e o que acontece quando sentem coceira.
Estudos anteriores haviam usado imageamento de ressonância magnética funcional, que apenas revelou que as duas sensações pareciam vir da mesma região do córtex pré-frontal.
Distinta da dor, a coceira é uma percepção desagradável que evoca o desejo de se arranhar. Embora haja diferenças entre os seus processamentos, a dor e a coceira são provavelmente relacionadas; a coceira ativa nociceptores fracos, enquanto que a ativação forte dos mesmos receptores resulta em dor fraca.
Além disso, existe uma ampla sobreposição de neuromediadores da dor e da coceira. Curiosamente, induzir dor ao realizar o ato de coçar pode abolir a coceira, sugerindo que existe um controle recíproco de ambas.
Ou seja, os pesquisadores já sabiam que dor e coceira eram subjetivamente similares, e imagens do cérebro mostravam por que: alguns dos mesmos receptores no sistema nervoso estão envolvidos no processamento das duas sensações.
Mas será que coceira e dor são basicamente variações do mesmo fenômeno neurológico?
Isso é o que eles queriam entender. Então, usaram sete cobaias e mediram sua atividade cerebral com uma nova técnica de imageamento: espectroscopia de infravermelho (NIRS, na sigla em inglês), o que lhes permitiu ver como o fluxo de sangue em seus cérebros se alterou em tempo real.
Os cientistas observaram dois padrões de ativação distintos no córtex frontal para dor aguda e para coceira induzida por histamina. Mas uma análise de correlação cruzada de sinais NIRS entre cada canal mostrou que havia um “acordo global” no que diz respeito ao envolvimento da área pré-frontal.
Então, sim, as sensações vêm da mesma área, mas as respostas do fluxo sanguíneo relacionadas com a dor e com a coceira são claramente diferentes: a da dor é medida em “τ = 18,7 seg”, e a da coceira em “τ = 0,63 seg”. Ou seja, o sangue flui para as regiões em um ritmo diferente, dependendo se você está sentindo coceira ou dor.
A descoberta pode permitir que cientistas desenvolvam tratamentos mais eficazes para distúrbios que envolvem esses efeitos, como dor crônica ou alergias.
Este é o primeiro estudo que demonstrou a separação espacial e temporal de fluxos de sangue induzidos pela dor e pela coceira durante o processamento da informação no córtex cerebral.
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