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sexta-feira, 16 de março de 2018

Mutismo seletivo


Mutismo seletivo ou mutismo eletivo é um transtorno psicológico raro (mais ou menos 0,7%) que afeta o desempenho comportamental da criança, caracterizado pela recusa de falar em determinadas situações, mas capaz de falar normalmente em outras, caracterizando assim que não se trata de uma incapacidade motora de emitir a voz.

O quadro foi descrito pela primeira vez em 1877 por Kussmaul como uma afasia voluntária. Em 1934, Tramer usou o termo mutismo eletivo.

O mutismo seletivo tem causa obscura e parece ter origem multifatorial. Geralmente o mutismo envolve crianças tímidas, introvertidas e ansiosas que falam apenas com os pais, com outras crianças muito próximas e com animais, no entanto se recusam a falar com adultos “estranhos” (professores, médicos, dentistas, etc.) e mesmo com outras crianças desconhecidas.

A frequência do mutismo seletivo não varia muito com o gênero, mas é um pouco mais comum em meninas. Pode também acontecer na esquizofrenia, histeria e autismo. A ausência da fala também pode dever-se à presença de um transtorno de comunicação, como tartamudez, dificuldade auditiva, transtorno de aprendizagem, transtorno de adaptação ou de separação ou depressão nervosa.

Também pode estar ligado a um trauma psicológico, violência física ou verbal ou uma grande decepção. Possivelmente há também uma influência genética, porque as estatísticas mostram que muitas crianças afetadas pelo transtorno têm um parente próximo com transtornos emocionais e a patologia é mais encontrada nos filhos de pais tímidos ou distantes.

Este transtorno se inicia na faixa etária entre 1 e 3 anos de idade, quando a criança já tem a fala adquirida. Geralmente é um quadro já plenamente estabelecido aos 8 anos. Pode ter origem genética e habitualmente está relacionado com a existência de um nível elevado de ansiedade, o qual pode estar associado com a atividade mais intensa da amígdala cerebelar e a traumas físicos ou emocionais.

As pessoas com este tipo de distúrbio conseguem falar e compreender a linguagem, mas só o fazem em situações específicas, decididas por eles. Em outras áreas da personalidade, o desenvolvimento da pessoa costuma ser normal. Apesar disso, as crianças com mutismo seletivo apresentam dificuldades em manter contato visual, não costumam sorrir em público, movimentam-se de forma rígida, não são capazes de lidar com situações como saudações, despedidas ou agradecimentos, se preocupam exageradamente com todas as coisas, são mais sensíveis ao ruído que o comum e apresentam dificuldade em falar sobre si ou expressar sentimentos.

As crianças que aparentam esse distúrbio costumam falar em casa e brincar normalmente com os irmãos, mas se mantêm caladas na presença de estranhos, mesmo se forem outras crianças. Às vezes, essas crianças são tão tímidas que nem conseguem fazer solicitações básicas como pedir para usar o banheiro na escola. Contudo, apresentam maior sensibilidade aos pensamentos e emoções alheias, maior inteligência e percepção superior aos demais.

Os pais acreditam, durante meses ou anos de mudez, tratar-se apenas de timidez normal, até que as demais manifestações clínicas se tornam evidentes. A atuação em conjunto com um psiquiatra da infância e adolescência é de extrema importância para se estabelecer um diagnóstico diferencial e tratar o caso de maneira adequada.

Um dos diferenciais mais importantes deve ser feito com a timidez, com o que é geralmente confundido, mas outros também se impõem: retardo mental, autismo, síndrome de Asperger, transtornos de expressão da linguagem, fobia social, depressão, transtorno de ajustamento e condições orgânicas (drogas, transtornos neurológicos, etc).

É comum usar fármacos para combater a ansiedade, a depressão e para aliviar os sintomas concomitantes. A terapia cognitivo-comportamental apresenta bons resultados. É importante que a criança tenha um acompanhamento psicológico, com envolvimento da família e participação da escola.

O início ocorre entre 3 e 8 anos e pode ser insidioso ou abrupto após um trauma. A duração é variável, podendo se arrastar por meses ou anos. Em geral, o mutismo seletivo não está associado com a dificuldade de aprendizagem.

Uma criança que tenha tido o problema de mutismo seletivo e conseguido superá-lo pode voltar a tê-lo. Como esse distúrbio muitas vezes é provocado por um trauma, nada impede que a pessoa volte a desenvolvê-lo, em qualquer idade, diante de uma nova situação traumática.

As complicações e dificuldades geradas pelo mutismo seletivo são muitas. Às vezes, essas crianças não conseguem nem mesmo pedir para ir ao banheiro ou beber água na escola.

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