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segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Arterite temporal


Arterite temporal, também denominada arterite de células gigantes, é uma vasculite da pessoa idosa, com inúmeras manifestações clínicas sendo a principal delas a perda visual.

Quando não tratada pode levar à cegueira irreversível em mais de 50% dos casos, o que geralmente pode ser evitado com o tratamento adequado.

Representa, portanto, uma condição cujo diagnóstico e tratamento devem ser estabelecidos em caráter de urgência.

Apesar de cursar com inúmeras manifestações sistêmicas, muitas delas levam a queixas inespecíficas que são difíceis de valorizar num primeiro momento pela maioria dos médicos clínicos.

Além disso, tais manifestações podem ser de curta duração ou estar ausentes.

Por outro lado, as manifestações neuro-oftalmológicas são muito sugestivas da doença e permitem que se levante a suspeita diagnóstica de imediato.

O oftalmologista, que na maioria das vezes se coloca erroneamente na posição de mero coadjuvante no diagnóstico das afecções sistêmicas, tem nesta condição uma responsabilidade fundamental.

Ele deve suspeitar da doença, estabelecer o diagnóstico por exames laboratoriais e/ou biópsia da artéria temporal e instituir a terapêutica inicial.

Alternativamente pode, após a suspeita inicial, certificar-se que o paciente seja encaminhado de imediato para profissional habilitado, mas nunca deve ter uma atitude passiva nem deixar o paciente à própria sorte, sob pena de perder a chance de prevenir a cegueira e ainda tornar-se vítima de possíveis implicações médico-legais.

A arterite temporal aparentemente já foi reconhecida na antigüidade pelo médico persa, Ali ibn Isa, que publicou (aproximadamente no ano 1000 a.C.) citação de que inflamações na região dos músculos temporais poderiam levar à perda visual.

Na idade moderna, mais especificamente na literatura de língua inglesa, a doença foi descrita pela primeira vez por Huctchinson, em 1890, e bem estabelecida como entidade nosológica, através da descrição do curso clínico característico e do relato anatomopatológico, por Horton em 1932(1). Apesar de tão antiga, a doença ainda tem sua fisiopatogenia pouco conhecida e continua a ser um desafio para neurologistas, oftalmologistas, reumatologistas, clínicos gerais e todos aqueles que se envolvem com o cuidado de pacientes geriátricos.

A arterite temporal acomete quase que exclusivamente pacientes idosos, sendo a idade média de início dos sintomas em torno de 70 anos.

Raros são os relatos da afecção abaixo dos 50 anos de idade e muito deles questionáveis, possivelmente decorrentes de outras vasculites sistêmicas, envolvendo a artéria temporal.

Do ponto de vista prático, portanto, a doença deve ser considerada apenas em indivíduos acima dos 50 anos e mais fortemente acima dos 60 anos de idade.

A incidência da doença se situa entre 15 e 30 casos por 100 mil habitantes acima de 50 anos.

Acredita-se que exista variação na incidência da afecção, dependendo da população estudada, sendo mais freqüente em brancos de origem escandinava do que em africanos.

De qualquer forma a incidência aumenta muito com o avançar da idade. Machado e colaboradores relataram uma incidência de 2,3 por 100 mil habitantes na sexta década de vida que subiu para 44,7 por 100 mil habitantes na nona década de vida.

Em pacientes acima de 80 anos a prevalência da afecção chega a 1%, o que é sugerido por estudos de autópsia(1). A maioria das séries estudadas mostra uma predominância da afecção no sexo feminino.

No Brasil a condição já foi considerada muito rara no passado.

Provavelmente este conceito se deveu ao pouco reconhecimento da afecção, aliado à menor longevidade da população brasileira naquela época.

Atualmente, embora não tenhamos dados populacionais a respeito, a arterite temporal deve ser lembrada em nosso meio, tanto quanto em outros países.

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