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sábado, 29 de setembro de 2012

Psicofarmacologia




Tomei a liberdade de "tomar emprestado" o texto de um site, pois achei esclarecedor e simples para entender, de certa forma. Aí vai:

Como é possível que problemas emocionais, refletidos em sintomas como ansiedade ou depressão, possam ser tratados com remédios?

Que estranho poder é esse que faz com que substâncias químicas possam destruir ou mesmo criar alucinações?

Para alguém não iniciado nos caminhos da psicofisiologia, a ação dos psicotrópicos pode parecer algo mágica.

Mas não é. Existe ainda muita coisa para a ciência esclarecer, mas o pouco que sabemos já é de extrema utilidade clinica.

Inicialmente é útil definirmos alguns termos, de uso corrente:

A palavra tropismo se refere à propriedade de uma substância química, ou droga, de atuar em lugares específicos de nosso organismo, (apesar de usar para sua difusão o sistema circulatório, que vai a todos os lugares).

Quando nos referimos a drogas com tropismo pelo Sistema Nervoso Central (SNC) usamos o termo psicotrópico.

Fármacos ou remédios são drogas prescritas por profissionais com objetivos terapêuticos. Quando se trata de problemas psíquicos usamos psicofármacos.

Existem ainda os psicotrópicos que são usados com objetivos não terapêuticos, aos quais podemos chamar de drogas de adicção. Podem ainda receber inúmeros outros nomes conforme seu efeito: narcóticos, psicodislépticos, euforizantes, e tantos outros.

Classificação

1. Sedativos
1.1 Drogas usadas no tratamento de psicoses
1.2 Drogas usadas no tratamento da ansiedade e insônia
1.3 Álcool etílico.
1.4 Derivados do ópio como: heroína, morfina, codeína e outros. Alguns com aplicações em outras áreas da medicina.
1.5 Outros sedativos (cola de sapateiro, "loló" etc).

2. Drogas que aumentam a atividade do SNC
2.1 Drogas usadas no tratamento de depressões
2.2 Drogas despertadoras
Anfetaminas (Moderadores de apetite como o fenproporex, "bolinhas")
Estimulantes presentes em plantas como o café‚ e o guaraná
Cocaína

3. Alucinógenos
3.1 LSD
3.2 Maconha
3.3 Substâncias encontradas em vegetais como o cacto Peiote, cogumelos Psilocibe, Daime, Trombeta e tantos outros.
(Os representantes desse grupo não apresentam uso terapêutico consagrado)

4. Drogas usadas para a estabilização do humor
4.1 Lítio
4.2 Anticonvulsivantes
4.3 Outros

Fundamentos


As nossas células no SNC, os neurônios, estão sempre em uma de duas alternativas. Ou estão em repouso, ou em ação.

A analogia com o computador é imediata. Nesse, as unidades básicas ou bits estão também em uma de duas alternativas: o 0 ou o 1.

É sobre essa absoluta simplicidade que se constrói toda a maravilha tecnológica que nos cerca e todas as sutis e infindáveis variantes das funções psíquicas do homem.

Para que uma única célula saiba se em um dado instante ela deve estar em repouso ou em ação (segundo os propósitos globais do SNC) deve receber uma informação.

A célula que a precede precisa de um mensageiro, de um transmissor, para passar tal ordem.

A essa interação entre as duas células damos o nome de sinapse, e esse transmissor é conhecido como neurotransmissor ou mediador.

Para que esse processo se dê com sucesso são necessários:

1. A síntese adequada do mediador pelo neurônio pré-sináptico.

2. A presença do mediador na fenda sináptica (espaço entre os dois neurônios) por tempo suficiente para que exista interação com o próximo neurônio.

3. Uma combinação perfeita entre esse mediador e os receptores (que são pequenas variações anatômicas na membrana do neurônio pós-sináptico). A melhor analogia é com uma fechadura e a chave respectiva: só a chave certa abre a porta. Uma chave parecida pode até entrar e ocupar o espaço, mas a porta não será aberta enquanto essa não for retirada e a correta, colocada.

4. Que esse mediador seja prontamente eliminado depois de cumprida a sua missão, preparando a célula para uma próxima mensagem. Algumas substâncias têm sua síntese muito cara para o organismo (seja pelo mecanismo da síntese ou pela obtenção de matéria prima) e o neurônio pré-sináptico recolhe tudo o que pode para um próximo uso. A esse mecanismo damos o nome de recaptação.

Outro processo envolvido nessa limpeza da fenda é a quebra do mediador através de uma enzima específica. Tudo o que sobra é levado pela circulação e excretado na urina.
Com isso já estamos aptos a compreender vários mecanismos que podemos usar para interferir na sinapse, sendo os principais os que seguem:

1. Bloqueio - usando uma substância parecida com o mediador, bloqueamos os receptores pós-sinápticos e impedimos a combinação do mediador correto. Estabelece-se uma competição entre o mediador verdadeiro e o falso: se a concentração da droga é alta, obtemos uma redução proporcional do efeito daquela sinapse.

2. Facilitação da sinapse através do uso de uma substância análoga ao mediador ou à sua ação na célula.

3. Diminuição da recaptação levando a uma estadia mais prolongada do mediador na fenda. Aumenta, portanto, as oportunidades de combinação com o receptor e conseqüentemente o efeito dessa sinapse.

4. Inibição da enzima que quebra o mediador, também levando a um aumento na permanência do mediador na fenda. As chances de combinação e a atividade dessa sinapse também aumentam.

Antes de se iniciar o estudo das drogas é importante lembrar um axioma no estudo da farmacologia:

"No drug has a single effect"

O estudo e o conhecimento dos efeitos colaterais de cada fármaco não nos deve assustar. Ao contrário, deve nos instrumentalizar na compreensão do processo pelo qual nosso paciente está passando.

É útil ainda lembrar que os seres humanos temos muitas particularidades e que mesmo cosméticos ou corantes de alimentos podem levar a sérias reações alérgicas ou idiossincráticas (que é o nome dado a reações adversas não alérgicas peculiares a um dado indivíduo).

Para compreendermos muitos dos efeitos "alvo" e dos "colaterais", precisamos conhecer o Sistema Nervoso Autônomo.(SNA)

Como o nome sugere é o sistema responsável pelas ações automáticas no organismo. Possui duas divisões, com efeitos diferentes. A princípio podemos pensar que esses sejam opostos, mas são complementares. É como dizer que o limão e o açúcar, em uma limonada, sejam opostos. Na verdade o equilíbrio é obtido através da combinação de um e outro.

A primeira divisão é o Sistema Nervoso Simpático, responsável pelo preparo do indivíduo em situações de "stress", que requerem defesas. Apresenta uma extensa síndrome que prepara o indivíduo para "fugir ou lutar". Nessa hora ocorre uma liberação maciça de mediadores excitatórios, sendo os principais a adrenalina, a noradrenalina e a dopamina.

A segunda divisão é o Sistema Nervoso Parassimpático, responsável pelo bom funcionamento das atividades rotineiras, básicas, de manutenção da vida. (Como a alimentação, a excreção, o repouso e outras.) O principal mediador é a acetilcolina.

Divisões do SNA Simpática Parassimpática
Íris dilatação constrição
Glândula lacrimal pouca muita secreção
Glândulas salivares pouca muita secreção
Glândulas sudoríparas muita pouca secreção
Coração taquicardia bradicardia
Brônquios dilatação constrição
Atividade digestiva diminui aumenta
Ativ.da bexiga pouca aumenta

Os antidepressivos tem efeitos colaterais anticolinérgicos, que são efeitos simpáticos. E os antipsicóticos tem efeitos colinérgicos, parassimpáticos.

Milene de Mello

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