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quinta-feira, 7 de junho de 2012

Gravidez e Medicamentos (psicotrópicos)





Diante de um profissional (ou o que é pior, um curioso ou parente ‘bem intencionado’) o qual recomenda enfática e empafiamente que “não se deve consumir nenhum medicamento durante a gravidez e lactação”, experimente perguntar em qual categoria de classificação de riscos se enquadra o medicamento em questão.

Pergunte em qual época da gestação “não se deve consumir nenhum medicamento”, pergunte ainda, qual a percentagem da substância que atravessa a placenta ou aparece no leite materno, pergunte, enfim, de onde essa pessoa tirou tais informações.

Você vai ver que ninguém, ou poucas dessas pessoas, entende sobre o assunto ou têm alguma autoridade científica sobre ele.

Essa negligência por omissão ou por ignorância científica, infelizmente, é bastante observada entre ginecologistas, obstetras e pediatras. É muito mais fácil proibir tudo quando não se conhece nada.

A gravidez é um momento de importante mudança emocional para a mulher, havendo um grande aumento do estresse e da ansiedade. Com freqüência a medicação psicotrópica adequada pode ser indispensável para o tratamento desses transtornos (McGrath, 1999), a despeito de a paciente estar grávida.

O tratamento dos distúrbios psiquiátricos manifestados neste período pode apresentar dilemas difíceis, devendo sempre envolver uma análise cuidadosa dos riscos e dos benefícios do tratamento. Por isso o intercâmbio continuado entre obstetras e psiquiatras deve ser incentivado fortemente, a fim assegurar o melhor resultado possível para a mãe e para o bebê.

Uma avaliação do Serviço de Saúde Pública Francês sobre o uso de medicamentos durante a gravidez em 1.000 mulheres no sudoeste de França, mostrou que durante a gravidez, 99% das mulheres receberam pelo menos uma prescrição médica (Lacroix I, Damase-Michel C, Lapeyre-Merstre M, Montastruc JL.- Prescription of drugs during pregnancy in France - The Lancet 2000; 356: 1735-1704).

A média foi de 13,6 medicamentos por mulher, sendo que 1,6% receberam uma ou mais prescrições de medicamentos catalogados pela FDA (agência americana para controle de drogas e alimentos)como sendo da categoria X, na qual os riscos para o feto são maiores que os benefícios.

Nessa mesma pesquisa viu-se que 59% das mulheres receberam prescrições de medicamentos catalogados na categoria D (aqueles que têm riscos para o feto, mas os benefícios podem ser aceitáveis e justificar o uso).

Finalmente, 79% das mulheres estiveram expostas a medicamentos dos quais não se dispõe informação sobre seu uso seguro durante a gravidez em animais ou em humanos.

Os dados mostraram que as grávidas francesas (acreditamos que, como as grávidas dos demais países) estão freqüentemente expostas a medicamentos dos quais não se conhecem exatamente os efeitos colaterais sobre o feto.

Isso pode significar que o uso indiscriminado desses medicamentos pode estar causando malefícios, mas, igualmente grave, pode significar que a recusa generalizada e preconceituosa em prescrever tratamentos pode ser igualmente ruim ou pior ainda.

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