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sábado, 30 de abril de 2011

Crises de Histeria




Conhecem-se relatos de quadros de histeria desde os primórdios da humanidade, podendo-se citar como exemplo os relatos presentes em documentos egípcios, escritos há 4 mil anos. Esse documento descreve casos de mulheres que apresentavam diversos sintomas associados, geralmente dores por todo o corpo, associadas à incapacidade de caminhar e até mesmo abrir a boca. Na antiguidade, atribuía-se como causa alguma alteração uterina. Acreditava-se que, devido ao descaso por parte do parceiro ou por fatalidade do destino, o útero deslocar-se-ia no interior do corpo da mulher, afetando o funcionamento dos outros órgãos e causando os sintomas. Por isso o nome "histeria", derivado do grego "hyster", que quer dizer útero.

Hipócrates, o pai da medicina, já falava sobre a histeria, entre as doenças das mulheres. Ele também acreditava na hipótese da movimentação do útero pelo organismo feminino, e o tratamento que ele recomendava era o mesmo indicado pelos egípcios: inalação de vapores e fumaças produzidas pela queima de produtos exóticos (que exalavam mau cheiro) e manobras físicas com o objetivo de fazer o útero retornar ao local. Interessante notar que, naquela época, esses quadros eram muito associados à abstinência sexual, de forma que em casos mais complicados, era indicada a introdução de uma espécie de "consolo" embebido em substâncias perfumadas, na vagina da mulher. Para a prevenção da histeria, recomendava-se a prática de relações sexuais.

Durante a Idade Média, as pacientes com quadros histéricos começaram a ser identificadas como "bruxas", sendo que muitas pacientes foram assassinadas com base nessa suposição. O quadro de histeria era associado à conjunção com os demônios. Na época foi até publicado um livro (o "Martelo das Bruxas"), o qual orientava os inquisidores a diagnosticar e castigar tais mulheres.

Quando se fala em personalidade, refere-se à maneira como a pessoa vive e se relaciona com o meio ao seu redor. Existem características que, às vezes, podem ser destacadas como marcantes e específicas em cada pessoa, permitindo a classificação de sua personalidade. Quando existe apenas a característica, falamos em "traço de personalidade". Quando essa característica prejudica a forma como a pessoa age e reage frente ao mundo, falamos em "transtorno de personalidade".

O paciente histérico caracteriza-se, geralmente, por apresentar um traço denominado "histriônico". Essa palavra estranha significa teatralidade. Assim, esse paciente costuma ter comportamento afetado, exagerado e exuberante, como se estivesse representando um papel. A pessoa é extrovertida, dramática e eloqüente; busca sempre chamar a atenção e seu comportamento varia de acordo com as reações das pessoas ("a platéia").

Eles costumam apresentar emoções exageradas, apresentam acessos de mau humor, choro e acusações, quando deixam de ser o centro das atenções. No início as pessoas costumam se encantar por esse indivíduo, mas a necessidade de ser sempre o centro das atenções acaba minando essa admiração.

Como vimos, desde a origem da palavra histeria, a doença sempre foi considerada exclusiva das mulheres. Era um dos maiores absurdos falar em histeria masculina. Além disso, a histeria era ligada à fraqueza moral da mulher, à sua incapacidade de mentir, sua imaturidade e necessidade de chorar e chamar a atenção e aos seus caprichos. Chegou-se a escrever que a histeria seria um componente essencial da natureza feminina.

Atualmente, porém, a histeria deixou de ser encarada como desordem resultante de "irritação" uterina, passando a representar um distúrbio da mente. Por isso, pode-se falar em histeria masculina. No entanto, o estigma ainda existe, e o homem histriônico costuma apresentar quadros atípicos de histeria, de forma que muitas vezes o diagnóstico realizado é outro. Sabe-se que, nos homens, a existência de um evento traumático que desencadeie a crise é essencial.

O homem histriônico, além dos sintomas típicos apresentados pelas mulheres, costuma ter preocupações com doenças cardíacas, vertigens e dores pelo corpo, além de preocupação com a aparência, o modo de falar e de se vestir. Costuma ser tão sedutor quanto a mulher histriônica.

A histeria é encarada como uma neurose, podendo manifestar-se com sintomas diversos, estranhos, muitas vezes transitórios. Frequentemente, os pacientes apresentam alterações das sensações, como cegueira, surdez, perda da voz, dores ou perda de sensibilidade (anestesia) em determinados locais. Outras queixas comuns são: dores de cabeça (até mesmo crises de enxaqueca), contrações da musculatura, dificuldade para caminhar, abrir a boca, elevar os braços, etc.

De uma forma geral, os sintomas que o paciente apresenta são muito influenciados pelo seu meio cultural, já que esses indivíduos costumam ser muito sugestionáveis. Assim, embora a doença seja involuntária (o paciente não controla o surgimento dos sintomas), parece que existe um componente intencional inconsciente. Vale lembrar que esses pacientes não costumam aceitar que existe um componente emocional no surgimento do quadro, atribuindo os sintomas apenas a alterações orgânicas que ele acredita existirem de verdade.

Essa associação é cada vez mais reconhecida, e estima-se que aproximadamente 38% dos pacientes histéricos apresentem também o diagnóstico de transtorno depressivo. Sabe-se que os indivíduos histéricos, para desenvolver as crises, necessitam de vivências emocionais significativas, ou seja, precisam passar por situações/eventos que tragam grande ansiedade/estresse/sofrimento. Como os pacientes com depressão apresentam maior sensibilidade às dificuldades encontradas ao longo da vida, vivenciando os conflitos de forma mais dolorosa, eles tendem a reagir com sentimentos mais fortes. Assim, temos a combinação perfeita para o desenvolvimento das crises de histeria.

2 comentários:

José Dias disse...

Li o artigo e acho que estou com sintomas de histeria. Estou com perda de cabelos e esta situação me deixou completamente fora de mim. Não aceito a velhice e a perda da juventude. Tenho 65 anos e vivo como se tivesse 40. Fiquei rouco e quase perdi a voz e agora estou com um zumbido no ouvido e com um nervosismo interior me tirando a calma. Detesto ficar velho e cada vez que constato isso, me entristeço. tem cura pra mim? talvez a morte interrompa o processo de envelhecer.

Carlos Alberto Rey disse...

José: o envelhecimento faz parte da Vida, felizmente, e a morte não ajuda em nada, se for provocada por nós.
Minha sugestão é que você procure ajuda de um psicoterapeuta para que você saia do seu quadro de não aceitação.