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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Dor no Peito no Transtorno do Pânico

O Transtorno de Pânico é caracterizado pela ocorrência espontânea e inexplicável de ataques de pânico, que são períodos de intenso medo, podendo variar desde diversos ataques ao dia até poucos no curso de um ano. A expressão desse medo é manifestada por sintomas emocionais e físicos, tais como, taquicardia, sudorese, falta de ar, medo de enlouquecer, perder o controle ou morrer. É também freqüentemente que essas crises de Pânico sejam acompanhadas por agorafobia, que é o temor de se encontrar sozinho em lugares dos quais seja difícil uma saída rápida, no caso da pessoa “passar mal”.

Um dos sintomas físicos responsáveis pelo paciente com Pânico procurar um Pronto Socorro é a dor no peito (dor torácica), reforçando ainda mais a idéia de que ele esteja tendo realmente um problema cardíaco grave, com a vida em risco. Normalmente é essa dor torácica que leva o paciente à busca repetida por inúmeros atendimentos em unidades de urgência, cardiológicas ou outros serviços médicos.

Gastão Luiz Fonseca Soares Filho, Alexandre Martins Valença e Antonio Egidio Nardi, publicaram um estudo de caso bastante útil para abordagem da relação entre as Crises de Pânico e os quadros de Dor Torácica (Soares Filho e cols., 2007).

De fato, a principal causa de dor torácica orgânica é de origem miocárdica, e se desenvolve quando o fluxo de sangue nas artérias coronarianas é insuficiente, ou seja, quando á uma Doença Arterial Coronariana. A persistir o problema ocorre o Infarto do Miocárdio. Os autores do artigo supra-referido ilustram a comorbidade (concordância) entre o Transtorno de Pânico com a Doença Arterial Coronariana. Eles alertam para o fato do diagnóstico de Transtorno de Pânico raramente ser feito e das graves conseqüências que podem decorrer disso.

Para confundir ainda o raciocínio clínico, devemos lembrar que 6 dos 13 sintomas básicos do Transtorno de Pânico são também encontrados em doenças do coração, como por exemplo, a dor torácica, as palpitações, sudorese, sensação de asfixia, sufocação e ondas de calor (Fleet et al., 2000). Tendo em vista essa semelhança entre os sintomas cardíacos e de pânico, é claro que a pessoa acometida por ataque de pânico, acreditando estar na iminência de um infarto agudo do miocárdio, busquem avidamente os serviços de emergência.

Curiosa e inversamente, também alguns dos principais sintomas da doença arterial coronariana e do infarto do miocárdio também sugerem estar havendo uma crise de Pânico. Os autores relatam um estudo com pacientes de serviços de emergência com sintoma de dor torácica, avaliados por meio de teste ergométrico ou arteriografia coronariana, e submetidos também a uma entrevista psiquiátrica anterior à entrevista cardiológica. Os dados foram muito significativos.

De 1.364 pacientes com dor torácica, 411 (30%) apresentavam Transtorno de Pânico. Desses 411 com Transtorno do Pânico, 306 (75%) não tinham diagnóstico de Doença Arterial Coronariana. Por outro lado, foi um dado muitíssimo interessante que, dos 1.364 pacientes, apenas 248 (18%) apresentavam Doença Arterial Coronariana sem Transtorno de Pânico.

Algumas conclusões importantes podem ser tiradas desse estudo. Dentre aqueles que chegaram à emergência com dor torácica, 30% apresentavam Transtorno de Pânico e 22% tinham Transtorno de Pânico sem Doença Arterial Coronariana. Analisando apenas aqueles com Transtorno de Pânico, 75% não apresentavam Doença Arterial Coronariana.

Embora tenha sido encontrada uma grande proporção de pacientes com Transtorno de Pânico sem Doença Arterial Coronariana, ainda assim é muito relevante o achado de que aproximadamente 26% dos pacientes com Transtorno de Pânico também tinha Doença Arterial Coronariana (Lynch e Galbraith, 2003). Isso quer dizer que, de rotina, a dor torácica deve ser sempre investigada com atenção, seja no Transtorno do Pânico ou não, buscando a identificação precoce de riscos orgânicos de ameaça à vida.

Resumindo, são comuns pacientes com ataques de pânico que apresentam concomitantemente dor torácica e palpitação. Por conta disso, anseiam por grande urgência de atendimento. A dor torácica em pacientes portadores de Transtorno de Pânico tem prevalência de 25% a 57% (Carter e cols., 1994; Fleet e cols., 1996). Como procuram emergências clínicas, o sintoma de dor torácica é investigado sob a ótica da Doença Arterial Coronariana.

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