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quarta-feira, 9 de junho de 2010

Crianças Frustradas

Há um enorme conflito habitando a mente do homem moderno; por um lado, a necessidade quase imperiosa de ter sucesso, e atualmente isso significa, exclusiva-mente, sucesso financeiro. Por outro lado, o freqüente custo amargo desse sucesso.
Segundo uma tendência deteriorante da sociedade intelectóide, crianças não podem se frustrar. Se elas se sentirem diferentes de seus pares, se elas não tiverem os bens de consumo de seus coleguinhas, telefone celular, roupas de grife, dinheiro para bares, boates e afins, enfim, se elas não se inserirem totalmente no mundo consumista que contactuam na escola e na mídia, pode ocorrer uma enorme tragédia; ficam frustradas.

Diante dessa perspectiva lúgubre, os pais têm de dota-las dessa "penosa normalidade" e, para tal, têm que trabalhar muito. Às vezes tem que trabalhar o pai e a mãe e, com isso, na falta alguém para educar e orientar essas crianças, elas acabam indo parar em creches e pré-escolas. E nas creches e pré escolas o que lhes é ensinado? Bem, aí já é outra questão, muito mais longa. Além disso, essas crianças correm o risco de crescerem frustradas porque seus pais são, como se diz modernamente, ausentes.

As crianças, incluindo aqui adolescentes, que por sinal são crianças pioradas, reivindicam desde os 11-12 anos, direitos dos adultos. Elas sempre têm coleguinhas cujos pais deixam fazer de tudo, permitem tudo e dão tudo e, novamente para não crescerem frustradas, ou pior, revoltadas, recebem tudo. Depois que perdem a virgindade, se drogam e chegam em casa bêbadas, os pais se sentem culpados, novamente por terem sido ausentes. Para minimizar a culpa ou continuar furtando-se da árdua tarefa de educar, levam os filhos a psicólogos.

Algumas correntes mais fantasiosas chegam a defender a idéia de que o quarto do filho é seu espaço inviolável, que suas opções de indumentária sejam prontamente aceitas (incluindo aqui piercings, tatuagens e toda sorte de automutilação), e outras liberalidades semelhantes.

As correntes libertárias e irresponsáveis, porque nem sempre seus defensores são pais, se propagam pela mídia, desde o cinema até programas atuais como os Big Bro-thers da vida e são defendidas com furor de orgasmo por mães que anseiam, não apenas serem consideradas amigas dos filhos, como também pessoas bacanas, legais, modernas e qualquer outro adjetivo que as faça esquecer que estão envelhecendo.

Não dar liberdade aos filhos pode causar frustração, dar liberdade também, assim como dar tudo o que querem, que dizem também corromper seus futuros ou, ao contrário, não dar o que querem deixa-os revoltados.... Se os pais não se preocupam muito em ganhar dinheiro, preferindo ficar mais tempo em casa enriquecendo a convivência com os filhos e, conseqüentemente, porventura o menino não tenha dinheiro para passar as férias em Búzios com os amigos, também fica revoltado, dizendo que seus pais são perdedores, não souberam ter o sucesso que tiveram os pais dos amiguinhos. Se, por outro lado, os pais batalham na vida para que os filhos tenham dinheiro para passar as férias em Búzios, aí os pais serão ausentes, logo, os filhos são frustrados do mesmo jeito. Afinal, o que eles querem?

A grande armadilha da natureza, visando a preservação da espécie, é claro, foi fazer as pessoas acreditarem que com elas tudo será diferente, portanto, acabam tendo filhos também. E a mãe continuará tendo orgulho em se achar a melhor amiga dos filhos, esquecendo-se que amigos a gente escolhe. Talvez se ela se dedicasse a desempenhar seu papel original as coisas fossem diferente.

Algumas (sugerem-me colocar sempre esse algumas) mães não são as melhores amigas dos filhos; elas são cúmplices. Escondem do pai a maioria dos comportamentos reprováveis, são empresárias do marketing de suas filhas, "modelos ou atrizes em potencial" custe o que custar, ocultam a primeira bebedeira do filho e assim por diante.

Talvez, devido à inclinação de sentir-se sempre jovem, moderno e progressista, grande número de profissionais dedica-se a entender os adolescentes. Sua função seria plena de êxito se conseguissem fazer esses adolescentes queixosos de que ninguém os entende, entender que, de fato, ninguém tem obrigação de entendê-los. Seria meritosa sua função se convencessem os adolescentes, que vivem se queixando com o velho chavão de não terem pedido para nascer, de que seus pais também não pediram para nascer exatamente eles. Poderiam ter nascidos crianças melhores.

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