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sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Consultas ao ‘Dr. Google’ sobre doenças preocupam médicos.

Que a internet modificou todo o sistema de comunicação do planeta, todos sabem. Mas um detalhe está deixando alguns médicos em alerta: são os internautas que buscam informações na área da saúde e chegam aos consultórios com opiniões já formadas ou até se automedicam.

Para esses pacientes, o site de pesquisa da internet Google vira a autoridade 'Dr. Google'. Por outro lado, pesquisadores acreditam que a web também pode melhorar a relação do médico com o paciente.

Essa discussão é o tema da tese de doutorado da médica Helena Garbin, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp): “Se a informação sobre saúde e doença está acessível na internet, muitas vezes ela é incompleta, contraditória, incorreta ou até fraudulenta”, afirmou ela, que nomeia o novo ator social como 'paciente expert'. “Ele é um paciente que busca informações sobre diagnósticos, doenças, sintomas, medicamentos e tratamentos”.

De acordo com o Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação, órgão responsável pela produção de indicadores e estatísticas sobre o uso da internet no Brasil, 33 % do total de usuários buscam informações relacionadas à saúde.

“É um fenômeno importante e é sem volta. Não tem retorno, esse processo vai continuar”, ressaltou a médica. Ela citou dois pontos positivos em ser um ‘paciente expert’: primeiro, ele tem mais informação sobre o seu estado de saúde e, com isso, pode se tratar melhor. “Ele compreende por que fazer determinadas coisas e vai fazer com mais naturalidade”. O segundo ponto a favor é que o diálogo não é mais de cima pra baixo: “Não é mais o médico mandou, você obedece”, afirma Garbin.

Porém, os pontos negativos estão em maior quantidade: “Você pode ter pessoas arrogantes que exigem que o médico receite determinado remédio; tem paciente que fica aborrecido porque acha que sabe mais do que o médico; existe o risco do automedicamento; e existe o risco do autodiagnostico, quando a pessoa se trata de forma incorreta e pode até morrer”.
Dr. Google já assustou muita gente

A publicitária Clarissa Ferreira, de 28 anos, é freqüentadora do ‘Dr. Google’ confessa: “O 'Dr. Google' é o que há! Sempre consulto por curiosidade, antes de ir ao médico, porque sou muito ansiosa”. Para ela, as informações encontradas na internet são mais exageradas do que o que o médico fala.

E foi numa dessas que ela passou por um susto grande. Adepta da corrida, a publicitária teve uma lesão no pé, mas não sabia ainda o que era. “Quando peguei a ressonância, tinha lá escrito ‘medula óssea’. Entrei na internet e a pesquisa começou a dar ‘leucemia’, fiquei em pânico, comecei achar que tinha algo muito sério e não era nada disso, era só uma fratura na fíbula. Eu chorei e tudo”, confessou.

“Já tomei muitos sustos com o 'Dr. Google', mas eu continuo consultando, não confio somente no médico”, disse Clarissa.

A consultora de Tecnologia da Informação (TI), Patrícia Shimizu, de 28 anos, contou que a irmã mais velha é outra viciada no 'Dr. Google': “Ela pesquisa tudo para todo mundo da família e tira as conclusões dela. Vai para o médico com toda a pesquisa feita na internet. Teve uma vez que ela me assustou muito, achando que a minha mãe estava com câncer de mama, e eu morava em outra cidade, sozinha. Fiquei com muita raiva. Para mim, não ajuda, eu me desespero sempre, não gosto nem de olhar exame”.

A irmã, a empresária Luciane Shimizu, se defende: “Eu pego qualquer resultado e já vou ver, palavra por palavra. Mas nunca me automedico. A internet me tranquiliza mais do que preocupa. Minha sogra está com um tumor, eu vi na internet que era benigno e ficamos mais calmos”.
Consultas médicas de hoje são mais curtas

A corretora de imóveis Ana Maria Parkinson Martins, de 67 anos, também já teve experiências boas e ruins com na busca por informação na área da saúde. Ela teve uma hérnia de disco e acabou descobrindo um médico, na internet, que falava de um novo tratamento, com uma agulha que fazia o disco crescer. Ana Maria pesquisou sobre o procedimento e chegou a mudar o plano de saúde para se consultar com o profissional. Não deu resultado.

“Um outro médico que eu fui depois disse que não ia adiantar nunca, porque além do disco tinha uma vértebra fora do lugar. Acabei operando e colocando parafuso”, afirmou ela.

“Eu não me automedico, mas descubro, nesses sites que tem fóruns, depoimentos de pessoas que têm o mesmo problema. Para isso é muito bom. Eu sinto que hoje em dia os médicos não têm interesse de pesquisar mais a fundo o que você tem. As consultas são muito rápidas, sinto que não tem mais aquele médico de antigamente que ia na sua casa, examinava você, hoje eles examinam seus exames”, contesta.

O curto tempo de consulta médica também preocupa a doutoranda Helena Garbin. “Esse é um problema grave. Com que tempo , com a estrutura sobrecarregada, você discute informação, diagnóstico, constrói um diálogo com o paciente? O médico de hoje tem uns cinco empregos, como ele ainda vai estudar e ficar na internet?”, indaga a doutoranda, alegando que a tendência, por conta disso, é as pessoas buscarem informações sobre saúde na internet. “Não é só a postura do médico que tem que mudar, é a estrutura da saúde”, afirmou.
Solução: orientações para uso de sites

André Pereira, médico e orientador da doutoranda Helena Garbin na Ensp, estuda a relação médico-paciente há 20 anos. Para ele, o grande perigo é que na internet não há controle na divulgação da informação.

“É um problema grave. O Pierre Lévy (filósofo francês e estudioso sobre a relação entre o virtual e o real) faz uma analogia entre a internet e o dilúvio da Arca de Noé. Estamos com a água já subindo e matando as informações. Temos que criar arcas, ou seja, lugares com informações boas e corretas. Nós vamos começar a fazer isso na Fiocruz, mas já temos pessoas realizando isso timidamente. São médicos que analisam sites e recomendam sites adequados, essa é a saída: criar orientações para uso de site”, afirmou.

Além dos profissionais, a idéia é que os pacientes também avaliem os sites, para que a linguagem seja acessível a todos. O laboratório de avaliação de sites da Fiocruz, segundo Pereira, deve funcionar até o fim de 2009.

Para Helena, a busca de informações ligadas à saúde na internet aproxima o médico do paciente, porque este passa a ter conhecimento para fazer perguntas e dialogar, o que, para ela, é importante: “Nos Estado Unidos e na Inglaterra isso está mais intenso. O governo tem um site para garantir que a informação seja de qualidade”, exemplifica.

Fonte G1

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