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terça-feira, 7 de abril de 2009

Cancer e Emoções.

É difícil alguém estar realmente preparado para o diagnóstico de câncer. Quando isso acontece a primeira atitude é de negação. Normalmente as pessoas custam muito a acreditar que aquele diagnóstico, culturalmente muito temido, esteja acontecendo exatamente com elas. Muito freqüentemente as pessoas duvidam que estejam lhes dizendo a verdade. É um momento de grande angústia, sensação de vazio e abandono, onde a introspecção proporciona uma revisão nos valores e na vida em geral, onde afloram lembranças de pessoas queridas ou conhecidas que, muito possivelmente serão deixadas para trás.

Posteriormente surge o medo, medo de morrer, de deixar pessoas queridas, de abandonar projetos futuros. Há uma forte angústia diante da possibilidade da dependência dos outros, do sofrimento futuro, quer pela doença, quer pelas conseqüências do tratamento. Mas todos esses sentimentos devem ser reavaliado ou orientado por profissionais para minimizar os efeitos do preconceitos sobre as emoções.

Em geral as pessoas acreditam que câncer é sinônimo de sofrimento e morte. É assim que o câncer e seus tratamentos constituem uma fonte de estresse, capaz de desencadear desordens de ajustamento nestes indivíduos problemas somáticos, psíquicos e sociais. Há trabalhos sobre o desenvolvimento de sintomas somáticos associados às preocupações emocionais e sociais relacionados à idéia do câncer, mais do que devidos ao câncer propriamente dito.

No entando, estudos sobre os aspectos clínicos e terapêuticas referentes a 895 casos de câncer de língua tratados no Hospital do Câncer A.C. Camargo, mostram que as chances de cura para os pacientes atendidos na década de 80 foram 40% maiores do que as dos pacientes tratados nas décadas de 50 e 60. Isto significa que atualmente os pacientes podem esperar possibilidades de cura muito maiores do que no passado, principalmente em função dos significativos progressos científicos e tecnológicos que ocorreram nas áreas de cirurgia, radioterapia e quimioterapia.

A clínica comprova freqüentemente que as manifestações iniciais do câncer permanecem latentes, estacionárias por longo tempo, antes de manifestar-se morbidamente, dando oportunidade à intervenção terapêutica. As atuais possibilidades da medicina permitem afirmar que o câncer é curável, quando tratado no início. Por conta desse prognóstico progressivamente mais otimista os médicos devem se preocupar sempre em identificar e estimular condições que facilitem a adaptação de seus pacientes. Assim sendo, o tratamento psicológico, em pelo menos alguma extensão, será sempre benéfico.
É muito importante deixar claro o significado dos seguintes termos: Pesar e Pena. Estes sentimentos estarão presentes, de forma variada, nos familiares de pacientes com câncer e são termos que se usam, freqüentemente, com diferentes intenções (Rando, 1984).

Pesar
Pesar é o sentimento que surge como reação ao fato de ter sofrido uma perda. O Pesar identifica a situação específica das pessoas que tenham experimentado uma determinada perda (Corr, 1997), portanto, o Pesar é uma reação emocional específica a este determinado "objeto".

Devido à perda, se desenvolve uma grande quantidade de emoções, experiências e mudanças na vida psíquica da pessoa. A duração desse estado depende da intensidade da relação com a pessoa que morreu ("objeto" perdido). É bom sublinhar que o Pesar tem também um aspecto antecipatório, ou seja, supõe o aparecimento de emoções e sentimentos antecipadamente à perda (vai morrer).

Pena
A Pena é o processo normal de reação emocional à percepção (forte indício) de uma perda. As reações de Pena podem ser vistas nas respostas à perdas básicas ou tangíveis, como por exemplo a morte, ou a perdas abstratas e psicossociais, como por exemplo o divórcio, o emprego, etc.

Cada tipo de perda implica experimentar algum tipo de falta ou privação. Durante o processo que atravessa uma família que vivencia o câncer, se experimentam várias perdas e cada uma gera sua própria reação. As reações de Pena podem ser psicológicas, físicas, sociais e conflitos emocionais.

As reações psicológicas podem incluir a raiva, mágoa, culpa, ansiedade e tristeza. As reações físicas incluem dificuldade para dormir, mudanças no apetite, queixas ou doenças somáticas, enfim, sinais e sintomas relacionados ao Transtorno de Adaptação e Ajustamento. As reações sociais incluem os sentimentos experimentados ao ter que cuidar de outros membros da família, o desejo de ver ou não a determinados amigos ou familiares (isolamento), ou o desejo de regressar rapidamente ao trabalho. Este processo depende do tipo de relação que se teve com a pessoa que morreu. Lindenmam (1994) faz notar cinco características para essas reações:

1. - aflição somática,
2. - preocupação com a imagem da pessoa morta,
3. - culpa,
4. - reações hostis, e
5. - perda da conduta normal.

O conflito emocional, seja ele consciente o inconsciente, pode ser relacionado também à resposta cultural à perda. O processo de incorporar a perda na vida afetiva contrapõe aquilo que queremos, com aquilo que devemos e aquilo que conseguimos. O conflito é, por exemplo, a contraposição entre o fato de sabermos que a morte deve ser inevitável, até como decorrência normal de quem vive, mas mesmo assim não queremos, e nem conseguimos aplicar à realidade essa conotação racional. Muitos outros conflitos, mais complexos que esse do exemplo, podem estar presentes diante da perda de um ente querido.

No chamado Processo da Pena se incluem três tarefas necessárias para que a pessoa volte a reintegrar-se à sua vida normal. Estas atividades incluem:

1. - liberar-se dos laços com a pessoa falecida,
2. - reajustar-se ao ambiente onde a pessoa falecida já não está e
3. - formar novas relações.

Liberar-se dos laços com a pessoa falecida, implica que se deve modificar a "energia emocional" (o tônus afetivo) invertida na pessoa perdida. Isto não quer dizer, de forma alguma, que tenhamos deixado de amar a pessoa desaparecida, mas sim, que é possível agora dirigir os sentimentos e afetos a outros, em busca de uma satisfação emocional.

A morte desperta com freqüência evocações de perdas ou separações do passado. Bowlby (1961) descrevia três fases do processo de luto:

1. - a urgência de recuperar à pessoa perdida,
2. - a desorganização e desespero e, finalmente,
3. - a reorganização da vida.

Durante o processo de reajuste ambiental (reorganização da vida) tem-se que modificar as regras, os valores, a própria identidade e as habilidades para ajustar-se a um mundo onde o falecido já não está. Ao modificar a energia emocional, a energia que uma vez se concentrava na pessoa falecida, agora se concentra em outras pessoas ou outras atividades. Esse esforço adaptativo costuma requerer muita energia física e emocional e, não é raro, vermos pessoas atravessando essa fase experimentando uma fadiga avassaladora. Nessa fase, em se tratando de um estado depressivo, ou mesmo um Transtorno de Ajustamento, pode estar indicado um tratamento psiquiátrico medicamentoso e/ou psicoterápico.

A experiência de Perda e Pesar não é somente pela pessoa que faleceu, mas também por todos os planos, idéias e fantasias que não se levaram a cabo com a pessoa desaparecida. De qualquer forma, os processos de Perda e Pesar fazem parte normal do universo existencial humano, são normais na medida em que sugerem que os seres humanos necessitam apegar-se a outros para melhorar sua sobrevivência e reduzir o risco de dano.

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